Tem dia que é melhor não futucar.
É que nesses dias, por uma coisa à toa, mixuruca, a gente chora – cai, desmorona.
E mesmo que o dedo passe a léguas da ferida, nesses dias tudo arde. Pode ser por uma chuva forte ou por uma forte saudade. Pode ser por um deboche, um telefonema ou por uma vaidade.
Quando é dia, não tem jeito, não há coisa pequena que passe.
E quando o choro vem, ah, vem que vem com vontade. Como uma árvore carregada, que com o balanço do vento deixa cair sem esforço seus frutos mais doces e pesados.
Sou do tipo que chora. (Não, não faço a apropriada).
Nunca soube medir lugar, companhia, razão ou conseqüência do sentimento pelos olhos derramados – (caía assim, naturalmente, como do pé cai a fruta por demais amadurada).
De minhas lágrimas não me envergonho, nem costumo pedir perdão. Ao contrário, para ser honesta, delas eu jamais abri mão.
*tenho uma bolsa velha, feita de couro delicado, que guarda uma mancha escura num estranho formato. Lembro como se fosse hoje do dia em chorava a ela abraçada, enquanto desmanchava com um antigo namorado. Sem me dar conta, as lágrimas escorriam pelo meu rosto e nela pingavam, arruinando pra sempre o fino couro (e aquele namoro).
Tsc, mas, como disse, tenho um choro implacável (e pude no máximo colocar a bolsa de lado).
AH, nesses dias em que a carne fica exposta, qualquer uma ou outra palavra soprada pode respingar feito vodca barata e provocar uma erupção. Do tipo que arde, fazendo borbulhar o sentimento, que vem do peito feito um trem descarrilado, pára na porta dos olhos e cai derramado.
Morno e molhado.
– Quem nunca chorando estragou o ombro de uma camisa branca, uma fronha, um cobertor de avião, um jantar, uma festa ou uma reunião?
Ok. Se suas lágrimas são raras e com elas você nunca estragou nada; nem chorou escondido numa despedida, assistindo a novela ou dirigindo sozinha na estrada,
– Parabéns!
(muita gente, certamente, acha que você merece uma medalha).
Já, eu, que não mereço nada, sou uma baita atrapalhada, molho bolsas, camisas e dependendo do dia, até toalha, sinceramente, não te guardo admiração.
Não, não é despeito. É que não consigo mesmo entender seu jeito de se manter sempre seco. Assim, verde, aristocrático, pendurado no galho, olhando de cima as outras frutas esborrachadas lá embaixo. Esperando pelo dia em que irão te colher com a mão.
*Qualquer dia desses, experimente se soltar, cair do galho, molhar o rosto e a camisa.
Chore de alegria, de tristeza, melancolia, tpm, saudade ou emoção – mas, de verdade, para se entregar à possibilidade de ser apanhado do chão.